sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Apresentação I

Esta experiência que tive com a poeta Thereza Christina Rocque da Motta enriqueceu, não somente a minha poesia, minha literatura, mas minha vida também. Por meio dos poemas deste livro, conversamos sobre a própria poesia e o próprio fazer poético, observando, especialmente, a seriedade num país que, no que diz respeito à poesia, se transformou num vale de lágrimas insuportável. Sou bastante cético em relação à poesia que se produz no Brasil atualmente, mais exatamente de cerca de 15 ou 20 anos para cá. É preciso dizer o que tenho repetido sempre: sem generalizar. Não generalizo. Não seria honesto.
Existem excelentes poetas no Brasil, a maior parte, infelizmente, à margem nos dias que correm, de uma total inversão de valores, de inconsequências amparadas por um chamado jornalismo cultural que, em alguns casos, chega a ser indecente. O Brasil tornou-se um país em que “poetas” nascem do dia para a noite e desaparecem da noite para o dia. Depende do humor daqueles que controlam a chamada mídia cultural e também as universidades.
Para mim, particularmente – repetindo: para mim, particularmente – isso não pode existir num país que se deseja sério. Por esse motivo, desde 1998, passei a dedicar-me inteiramente à poesia portuguesa, experiência que se estendeu por 15 anos. Filho de portugueses – meu pai de Angola, minha mãe de Anadia – resolvi buscar minha antecedência existencial. Desse mergulho na poesia portuguesa, resultaram 16 livros publicados em Portugal, vários deles já editados aqui também, seguindo o ritmo dessa poesia, a música, as palavras de Portugal, num estudo profundo de toda a poesia portuguesa.
A ideia de escrever este livro a dois surgiu casualmente, se é que existem coisas casuais. O resultado, ao meu ver, é excelente. Thereza Christina é uma poeta de linguagem elegante e principalmente séria diante das cenas brasileiras que atingem a poesia de maneira mortal. Não dá para continuar nessa aventura de alguns verdadeiros irresponsáveis diante da palavra, infelizmente enaltecidos por outros irresponsáveis que detêm o poder da mídia cultural e fazem o que bem entendem com a história.
Saúdo minha companheira de livro com o coração que ainda me resta. Saúdo minha companheira de viagem como uma poeta verdadeira, que sabe de seu ofício e conhece sua palavra. Os chamados donos da poesia brasileira representam nada. Poesia é coisa séria.
Como escreveu, em 1985, meu amigo Roberto Piva, que já se foi: “Só acredito em poeta experimental que tenha vida experimental”. Não me interessa uma “poesia” de laboratório de muitos que andam por aí com o catecismo das inconsequências que dizem ser poesia. Eu quero a poesia da vida. Eu quero a poesia da poesia.
Resumo tudo num pequeno poema que escrevi há alguns anos. Com algumas poucas palavras, ele diz melhor:

Escrever poesia
é abrir a ferida
não mais me engano

é partir para o nada
e se perder de vez
no próprio dano

é cavar a vida
em ato insano.

Álvaro Alves de Faria
São Paulo, 8 de agosto de 2016

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