Esta experiência que tive com a poeta Thereza
Christina Rocque da Motta enriqueceu, não somente a minha poesia, minha
literatura, mas minha vida também. Por meio dos poemas deste livro, conversamos
sobre a própria poesia e o próprio fazer poético, observando, especialmente, a
seriedade num país que, no que diz respeito à poesia, se transformou num vale
de lágrimas insuportável. Sou bastante cético em relação à poesia que se produz
no Brasil atualmente, mais exatamente de cerca de 15 ou 20 anos para cá. É
preciso dizer o que tenho repetido sempre: sem generalizar. Não generalizo. Não
seria honesto.
Existem
excelentes poetas no Brasil, a maior parte, infelizmente, à margem nos dias que
correm, de uma total inversão de valores, de inconsequências amparadas por um
chamado jornalismo cultural que, em alguns casos, chega a ser indecente. O
Brasil tornou-se um país em que “poetas” nascem do dia para a noite e
desaparecem da noite para o dia. Depende do humor daqueles que controlam a
chamada mídia cultural e também as universidades.
Para mim,
particularmente – repetindo: para mim, particularmente – isso não pode existir
num país que se deseja sério. Por esse motivo, desde 1998, passei a dedicar-me
inteiramente à poesia portuguesa, experiência que se estendeu por 15 anos.
Filho de portugueses – meu pai de Angola, minha mãe de Anadia – resolvi buscar
minha antecedência existencial. Desse mergulho na poesia portuguesa, resultaram
16 livros publicados em Portugal, vários deles já editados aqui também,
seguindo o ritmo dessa poesia, a música, as palavras de Portugal, num estudo
profundo de toda a poesia portuguesa.
A ideia de
escrever este livro a dois surgiu casualmente, se é que existem coisas casuais.
O resultado, ao meu ver, é excelente. Thereza Christina é uma poeta de
linguagem elegante e principalmente séria diante das cenas brasileiras que
atingem a poesia de maneira mortal. Não dá para continuar nessa aventura de
alguns verdadeiros irresponsáveis diante da palavra, infelizmente enaltecidos
por outros irresponsáveis que detêm o poder da mídia cultural e fazem o que bem
entendem com a história.
Saúdo minha
companheira de livro com o coração que ainda me resta. Saúdo minha companheira
de viagem como uma poeta verdadeira, que sabe de seu ofício e conhece sua
palavra. Os chamados donos da poesia brasileira representam nada. Poesia é
coisa séria.
Como escreveu,
em 1985, meu amigo Roberto Piva, que já se foi: “Só acredito em poeta
experimental que tenha vida experimental”. Não me interessa uma “poesia” de
laboratório de muitos que andam por aí com o catecismo das inconsequências que
dizem ser poesia. Eu quero a poesia da vida. Eu quero a poesia da poesia.
Resumo tudo num
pequeno poema que escrevi há alguns anos. Com algumas poucas palavras, ele diz
melhor:
Escrever poesia
é abrir a ferida
não mais me engano
é partir para o nada
e se perder de vez
no próprio dano
é cavar a vida
em ato insano.
Álvaro Alves de Faria
São Paulo, 8 de agosto de
2016
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