Vou ao avesso de mim.
Viro ao contrário o que era íntimo e segredo.
E desviro o que era exposto e aberto.
O que sei deixo de saber e o que não sei torna-se
sabido.
Passo a ser o que não era e o que fui deixo de ser.
Sou meu próprio avesso e direito.
E as mãos se confundem como numa pista de mão dupla.
O antipoético se torna poético.
E o poético se torna rançoso.
A palavra não basta, porque foi gasta.
Não basta o poema, porque está vazio.
A poesia não cabe, porque se foi.
E o avesso, que era oculto, tornou-se abscesso.
O absurdo tomou conta do poema.
O poema agora diz o que não diz.
E o que o poeta que queria dizer não está no poema.
Procura-se a poesia fora do poema.
Procura-se o poeta fora da poesia.
Ele existe, porque existe o poema.
E o poema existe, porque existe o poeta.
O que é do poema, sem o poeta?
O que é da poesia, sem as palavras?
O que é do poeta, sem a poesia?
O que é da palavra, sem o poema?
Poema / palavra / poesia / poeta.
Vai-se ao avesso de tudo.
Vai-se ao fundo do poema.
E traz-se de lá o poético.
O antipoético.
O antipoema.
TCRM – 21/07/2016 / 20h10
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