Quero dividir meu prato de arroz,
como se isso fosse normal,
colher a maçã da árvore
e carregar um cesto de pão pelas aldeias.
Não sei mais tocar flauta
e da poesia me afastei
para salvar-me de mim.
As ruas não terminam
e os sapatos não sabem mais voltar.
As mãos sem dedos
estão escondidas.
mas a noite nem começou.
Sempre chega a hora,
esse tempo dentro dos relógios
e dos sinos das igrejas
quando a tarde está no fim.
As mulheres vestem preto
e rezam suas dores
em terços antigos
que esqueceram as preces.
As palavras que eu sabia
perderam o sentido
quando o poeta em mim
pulou para fora da vida
Mas não é tudo:
some em mim o que me cala,
a poesia que me habita em casa
e mata o que vive na sala.
Junto tudo que me guardo
mas nada cabe na vala.
A esta altura da vida,
o poeta olha para trás
e vê
a obra nos livros
a poesia sempre tirada da carne,
de uma dor que nem sabe,
dessa alma em si pequena.
O poeta olha para trás
e sente que não valeu a pena.
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