sexta-feira, 12 de agosto de 2016

30 Não é preciso ser aquele que sempre fui (AAF)


Não é preciso ser aquele que sempre fui,
porque hoje vivo escondido
e não sei mais o que sou.

Costuro-me na pele o que guardo de ausências
com agulhas que atravessam
o que ainda resta da poesia.

Augusto dos Anos me diz
que a mão que afaga é a mesma que apedreja
e eu me olho no espelho com nove pedras nas mãos.

Depois visto minha blusa vermelha
com um capuz que faz de mim um estranho
e a mulher que diz me amar não abre a porta.

Os altares das igrejas me mostram santos tristes
com lágrimas de sangue e mãos estendidas.

Sou santo de mim mesmo,
mas ainda não faço milagres,
no máximo, perdoo meus pecados,
os que nunca cometi.

Nunca serei aquele que sempre fui,
porque nunca fui esse que está no meu retrato.

Daquele homem restam dois poemas sem palavras,
o que já é muito
para compreender de vez
o esquecimento que tenho de mim.  


AAF – 14/07/2016 – 18h29

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