A vida só vale pelo que dela se lembra,
mas não é esse o meu destino
neste espaço que ocupo
com meu casaco de veludo.
Prefiro não me lembrar de nada
e começo por esquecer de mim.
Estou sozinho no quarto
à procura de um pulôver
para sair às ruas
beber um copo de veneno.
Guarda o poema
que trago no bolso,
escrito em setembro de 1815,
quando eu andava madrugadas
como se fosse um poeta doente.
Guarda o que escrevi
quando tudo era preciso,
menos escrever um poema.
Talvez encontre uma mulher
e viaje com ela para qualquer lugar
onde ninguém nos conheça.
Depois
ouviremos uma valsa brasileira.
Colocarei meus sapatos numa caixa
onde guardo alguns poemas
com o gosto vermelho das amoras.
Agora faz tempo
que não converso comigo
por falta de assunto.
Deixo-me ficar
onde estou adormecido,
com dois frascos de perfume
num lugar distante, desconhecido.
AAF – 18/06/2016 – 13h10
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