sexta-feira, 12 de agosto de 2016

11 Ando escondida entre as páginas dos livros (TCRM)


Ando escondida entre as páginas dos livros
Das últimas bibliotecas.

Os poetas morreram antes de seus livros.
Jazem nas estantes como memórias de dias idos.
A poesia árida fere, a palavra é áspera,
Golpe de faca, cutelo,
Para abrir as entranhas do novo.

Ninguém lerá o poema, mas ele espera ser lido.
Um dia, o poema será lido.

E o que está no poema?
Não é fala, mas a palavra dura.
Não é o homem, mas o seu reflexo.
Não é a voz, mas o silêncio.
O pensamento que cabe em cada sílaba
Sussurrada na biblioteca de Borges.

Os sábios construíram seu conhecimento do nada,
Tiraram coelhos de cartolas, pombas de lenços vermelhos,
Serraram moças ao meio, como se fosse possível recompô-las.
Fecharam-se em armários com fundos falsos
E caíram sobre um colchão duro.

A palavra é mágica.
E sem nenhum destemor, opera milagres.
Sem truques, sem varinhas de condão,
Sem encantamentos.

Não se constrói um poema do nada.
Não se escreve sobre o que não se conhece,
Mas deciframos o que não sabemos
Por essa rara urdidura que a palavra tece.


TCRM – 20/06/2016 – 18h22

Nenhum comentário:

Postar um comentário