sexta-feira, 12 de agosto de 2016

4 Parei ao pé de mim para me encontrar (AAF)


Parei ao pé de mim para me encontrar,
no entanto,
perdido no meu desaparecimento,
nas pedras de meu espanto,
sendo poeta,
ainda canto.

Na poesia meus desenganos, o passado
em que me observo, esse reino em que vivo
como um servo, tão longa vida em poucos anos.

A poesia apagada
está na mente que me consome,
as vírgulas em versos perdidos
que caem de meus dedos cortados.

O que me dói na poesia
é a morte da poesia,
o poema que se desfaz
em palavras que desaparecem.

Nada sei de mim ausente, do que em mim
se procura, uma dor que já não sente,
a doença que não tem cura,
o desviver inexistente
à luz de uma vela escura, a palavra
que me segura,
que em mim apenas mente.

No espelho essa figura que em mim
se desespera, está sempre à minha espera
com um pote de amargura.
Calo o que em mim se altera, a face tecida
nessa agrura, o que na pele se costura
nunca mais se recupera.

Ando nas ruas medievais,
onde me guardo
nas igrejas de santos solitários.
Mulheres tristes rezam
preces esquecidas,
as palavras que guardo em mim,
que não sei mais.

Escurece em minha volta
o dia que em mim termina,
tenho dois cachos de uvas
como um pássaro em minha sina.


AAF – 15/06/2016 – 10h52

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