Nunca amanhece no infinito,
nem anoitece.
Nada acontece,
senão algum sino que bate em algum lugar
entre monges esquecidos.
Um som surdo ecoa
por trás das portas abertas
e das fechadas também.
A casa está repleta de anjos
desses renascentistas
que atravessam os séculos
e estão sempre iguais.
Não há mais tempo,
tudo passa muito depressa,
mas a vida é devagar.
Do fundo do quarto
é possível ouvir melhor
uma certa música
que ninguém mais ouve.
Também é possível esquecer.
No meio da tarde, o pássaro
começa a se recolher
escondido na árvore
com a asa esquerda ferida.
Folhas de metal
cortam a paisagem íntima
dessa ave que tenta voar
o voo incerto
do que não existe mais.
Os passos são pesados
e pisam nas poças.
Quando escurece,
os sapatos fogem dos pés
e se perdem no esquecimento
que deixa de ser.
AAF – 4/07/2016 – 13h28
Nenhum comentário:
Postar um comentário