sexta-feira, 12 de agosto de 2016

22 Nunca amanhece no infinito (AAF)


Nunca amanhece no infinito,
nem anoitece.

Nada acontece,
senão algum sino que bate em algum lugar
entre monges esquecidos.

Um som surdo ecoa
por trás das portas abertas
e das fechadas também.

A casa está repleta de anjos
desses renascentistas
que atravessam os séculos
e estão sempre iguais.

Não há mais tempo,
tudo passa muito depressa,
mas a vida é devagar.

Do fundo do quarto
é possível ouvir melhor
uma certa música
que ninguém mais ouve.

Também é possível esquecer.

No meio da tarde, o pássaro
começa a se recolher
escondido na árvore
com a asa esquerda ferida.

Folhas de metal
cortam a paisagem íntima
dessa ave que tenta voar
o voo incerto
do que não existe mais.

Os passos são pesados
e pisam nas poças.

Quando escurece,
os sapatos fogem dos pés
e se perdem no esquecimento
que deixa de ser. 


AAF – 4/07/2016 – 13h28

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