A missão do poema
permanece intacta,
mas o poeta não sabe,
perdido que está
entre palavras inúteis
e uma poesia
que não existe mais.
A farsa de João Cabral
ensina a construir poemas
com uma fita métrica,
um edifício
que vai desabar amanhã.
Quero o poeta
que se espanta, esse mesmo
que se cala,
esse homem que se encanta
e adormece
na sala, como a raiz
de uma planta
para sempre
na raiz de sua vala,
com seu grito na garganta
no ponto
final de uma bala.
A poesia é árida e fere
como o golpe de uma faca,
esse corte sempre aberto
que o poema não absorve
perdido dentro de um livro
que nunca ninguém vai ler.
Os poetas morreram todos
e estão sepultados
nas estantes da última biblioteca.
Forasteiro de mim mesmo,
estou escondido na página 19
do primeiro livro à esquerda.
AAF – 20/06/2016 – 14h01
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