sexta-feira, 12 de agosto de 2016

18 As palavras dizem, é preciso ouvir (AAF)


As palavras dizem, é preciso ouvir.
As palavras dizem, é preciso calar.

As palavras calam
e a memória salta da cabeça
como um poema doente
no centro cirúrgico da poesia brasileira.

Alguns poetas usam bisturis
na poesia em coma
e cortam sílabas e vírgulas,
mas a salvação é difícil.

O poema adoeceu com o tempo,
sem perceber que estava sendo destruída
pela palavra que mente
na palavra escrita,
no verso inconsequente.

O verso diverso,
o verso do avesso.

Perdida em si,
a poesia tenta viver
num tempo de equívocos.

O poema lembra imagens parnasianas
de uma igreja no crepúsculo,
mas só para rimar,
é manuseado quase só
por gente sem escrúpulo.

Assim, não ouço palavras,
nem falo,
porque quase nada
há para ouvir, falar ou escrever.

Boa noite, senhores tecnocratas
da poesia do Brasil,
espero não vê-los nunca mais.

Eu por mim prefiro esconder-me
num móvel de coisas inúteis
que não servem para mais nada.   


AAF – 30/06/2016 – 9h56

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