sexta-feira, 12 de agosto de 2016

2 Sigo-te por toda parte (AAF)


Sigo-te por toda parte.
Sou o poema que mergulha em ti.
No entanto, essa palavra não me basta,
como não me cabe
esse corte a mim destinado.

Estou me despedindo das pessoas
como se não fosse ver mais ninguém.
Esqueci-me das coisas
que não poderia esquecer.

Mas nem tudo é inesquecível.

Esqueci-me de mim no dia 13 de setembro
e até agora ando à minha procura
como se me quisesse encontrar.

Tenho conversado muito com alguns livros,
como se fosse a última vez.
Leio poemas antigos de poetas suicidas
e deixo que as palavras
escorram pelos meus dedos sem unhas.

Os versos que em mim tremulam
não me alcançam onde estou.

Tenho uma gaveta de cartas,
mas a chave desapareceu em 1929,
quando eu ainda não existia.

Com  meu casaco molhado
caminho as ruas
entre poças que engolem
meus sapatos sem rumo,
mas sei que não tenho aonde chegar. 


AAF – 10/06/2016 – 16h45

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