sexta-feira, 12 de agosto de 2016

21 A vida se interrompe todos os dias (TCRM)


A vida se interrompe todos os dias quando nos perguntamos por quê.
Por que começamos pelo começo.
Por que nos calamos quando devemos responder.
Por que temos mais perguntas que respostas e as respostas nunca são completas.

Gostamos de dizer “Se”, quando é praticamente impossível imaginar todas as possibilidades e o que aconteceria a partir delas.
Somos limitados em essência e queremos ser apenas práticos quando deveríamos ser criativos.
Não saber é um belo modo de querer descobrir.
Descubro que nada sei.
Assim é preciso aprender alguma coisa.
Olho.
Inventario.
Pesquiso.
Escrutino.
Desvelo.
Eu me desvelo quando vejo que não há saídas para o hoje que continua sendo absolutamente hermético.

Decifra-me ou te devoro.
Devora-me para me decifrar.
Antropofagia do ser que engole palavras.
Eu te decifro para que me digas quem sou.
Sou o que não sei que sou.
Só o impossível me revela a cada instante.
Cada instante se desdobra em outros instantes diminutos que escorrem por dentro da pele,
Entre os ossos, onde um som contínuo sibila meu nome.
Eu não tenho nome.
A natureza das coisas não muda.
As coisas, sim.
A natureza, não.

Ouço o farfalhar de folhas e espero.
É madrugada e um som surdo ecoa por trás das portas abertas.

Não passemos ao infinito, porque lá nunca amanhece.


TCRM – 3/07/2016 – 13h22

Nenhum comentário:

Postar um comentário