sexta-feira, 12 de agosto de 2016

16 Tudo é dito hoje e se apaga (AAF)


Tudo é dito hoje e se apaga,
tudo é dito hoje e se apega.
A palavra escolhida é o poema,
o poema escolhido é a palavra.

Da minha janela fechada
vejo as pessoas nas ruas
falando sozinhas.

Lembro das mulheres que amei,
esquecidas na memória
que não tenho mais,
mas lembro,
sempre me lembro de bocas vermelhas
e salivas em línguas molhadas
nas palavras de ais
escorrendo na pele.

As pessoas falam sozinhas
tropeçando nas calçadas
e as ruas todas se fecham
com cercas de arame.

O poema é isso que surge
assim sem dizer
na poesia que desaparece.

O poeta que vivia e mim
matou-se ontem à noite
e ele fez bem em acabar com a vida.

Deixou algumas palavras
numa carta inexistente
e foi embora como se não fosse.

Eu não falo sozinho,
porque choro.

No entanto, o que me desperta
é a lágrima que esfria o rosto
em que me escondo de mim.


AAF – 29/06/2016 – 11h11

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