Tudo é dito hoje e se apaga,
tudo é dito hoje e se apega.
A palavra escolhida é o poema,
o poema escolhido é a palavra.
Da minha janela fechada
vejo as pessoas nas ruas
falando sozinhas.
Lembro das mulheres que amei,
esquecidas na memória
que não tenho mais,
mas lembro,
sempre me lembro de bocas vermelhas
e salivas em línguas molhadas
nas palavras de ais
escorrendo na pele.
As pessoas falam sozinhas
tropeçando nas calçadas
e as ruas todas se fecham
com cercas de arame.
O poema é isso que surge
assim sem dizer
na poesia que desaparece.
O poeta que vivia e mim
matou-se ontem à noite
e ele fez bem em acabar com a vida.
Deixou algumas palavras
numa carta inexistente
e foi embora como se não fosse.
Eu não falo sozinho,
porque choro.
No entanto, o que me desperta
é a lágrima que esfria o rosto
em que me escondo de mim.
AAF – 29/06/2016 – 11h11
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