Uma lágrima esfria meu rosto.
Espero sentada à janela que cheguem as palavras
exatamente como são.
Não é preciso esperar muito, pois estão ávidas de
sentido.
Querem logo se juntar às outras e construir frases,
Essas pontes entre razão e sentimento.
O que explica um poema senão como eu me sinto diante
de tudo?
A vida seria mais simples se fosse feita só de
palavras,
E não de gestos abruptos e silêncios.
Quem eu sou não importa.
Importa que eu diga o que tenho a dizer.
Não é o que sinto, apenas, mas o que penso.
Ninguém me pergunta o que penso, só o que sinto.
Eu estou bem.
Estamos bem. Estamos todos muito bem.
Mesmo que não estejamos.
Mesmo que não desfrutemos metade do que nos foi dado.
Este paraíso foi excluído dos orbes celestes
E só recebe entes desgarrados.
O que fizeram de nossa antiga história?
Havia mais tempo para vivê-la.
Havia mais tempo para sentar à mesa e conversar.
Hoje as conversas foram expulsas das mesas
E viraram discussões.
Ninguém mais ama conversar.
Convergir. Converter-se ao outro.
O que fizemos de nosso tempo que não temos mais horas
de sobra?
Nem horas para nós mesmos?
Onde fomos parar que não estamos mais em nós?
Abro um livro. Leio a primeira palavra.
Escuto-a. Um grande silvo atravessa a palavra enquanto
é dita.
Um sopro antigo que vem de outro tempo.
A palavra sussurra seu sentido desde sempre.
E antes de pronunciada, já era ela mesma, desde que se
formou.
Formamos as palavras para os nossos sentidos.
Para o que entendemos e queremos dizer,
Então as palavras dizem.
Ouçamos o que elas têm a dizer.
Sopro, silêncio, segredo, sibilantes sílabas de nosso
degredo.
TCRM – 29/06/2016 – 13h
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